Primeiro governador da história do Rio a ser preso durante o exercício do mandato, Luiz Fernando Pezão contestou as acusações de que recebeu quase R$ 40 milhões em propina e ocultou o dinheiro. Na quinta-feira, horas depois de ser levado por policiais federais do Palácio Laranjeiras, ele prestou depoimento, mesmo tendo a opção de permanecer em silêncio. Por três horas, negou atos ilícitos.
Chamado por investigadores de “herdeiro” de Sérgio Cabral no comando de organização criminosa, Pezão recorreu ao ex-governador para se eximir de responsabilidade por eventuais ilegalidades em arrecadação para campanha de 2014. E disse que o aparelho de som home theater de R$ 300 mil instalado em sua casa em Piraí , no Sul Fluminense, foi um presente de aniversário dado por seu antecessor.
Acusações e explicações Pezão é acusado pelo Ministério Público Federal de receber propina entre 2007 e 2014 — o valor de R$ 40 milhões daria para pagar os salários de 22.614 servidores em um mês. Investigadores também suspeitam que ele movimentava dinheiro em espécie ou usava “laranjas”, já que sua conta bancária está zerada. Durante entrevista sobre a ação, procuradores não apresentaram provas materiais dos pagamentos.
No depoimento, Pezão disse que pagava as próprias despesas com uma conta bancária pessoal, diferente da indicada pela PF, que já estaria desativada. Seus advogados pretendem entregar extratos bancários para provar a afirmação.
Duas derrotas na Justiça A ordem de prisão não foi o único revés de Pezão na quinta-feira. Em outra investigação, sobre irregularidades na reforma do Maracanã, ele teve bens bloqueados no valor de R$ 8,9 milhões.
O que significa A prisão do governador é tema de análise dos colunistas do GLOBO. Bernardo Mello Franco afirma que a ação coloca um ponto final no ciclo de poder do PMDB, partido de Pezão, Cabral e Jorge Picciani, todos presos. Flávia Oliveira elenca as causas do colapso do estado: “a capital dos megaeventos tornou-se vexame nacional”. E Míriam Leitão questiona o futuro das finanças do Rio, o único estado a aderir ao Regime de Recuperação Fiscal.
Autor do livro “Na Fissura — Uma história do fracasso no combate às drogas” diz, em entrevista, que nenhum país obteve sucesso na guerra aos entorpecentes, usada como pretexto para reprimir grupos