Em meio ao combate à pandemia do coronavírus, o presidente Jair Bolsonaro criou uma crise política ao comunicar ao ministro Sergio Moro (Justiça) sua decisão de mudar o comando da Polícia Federal. Moro reagiu com ameaça de deixar o governo se não participar da escolha do substituto. Os ministros Braga Netto (Casa Civil) e Luiz Eduardo Ramos (Secretaria de Governo) tentam evitar a saída do ministro.
Moro quer emplacar uma pessoa de confiança na PF. Entre os nomes cogitados, estão o do atual diretor do Departamento Penitenciário Nacional (Depen), Fabiano Bordignon, e o atual diretor-geral da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), Alexandre Ramagem. A Bolsonaro, agrada o nome do delegado Anderson Torres, atual secretário de Segurança Pública do Distrito Federal.
A exoneração do diretor-geral da PF, Maurício Valeixo, foi publicada no Diário Oficial desta sexta-feira. O decreto da saída de Valeixo não foi formalmente assinado por Moro. E não consta no Diário Oficial a indicação de um substituto.
Em detalhes: Bolsonaro queria tirar Valeixo do cargo desde a metade do ano passado. Valeixo já negociava uma saída pacífica e tinha avisado a superintendentes que deixaria o posto em breve.
Bastidores: Bolsonaro teria se irritado com Valeixo por ter ficado sabendo que ele colocará para tocar o inquérito aberto pelo Supremo Tribunal Federal sobre os protestos contra a democracia a mesma equipe que investiga ataques a integrantes da Corte, relata o colunista Merval Pereira. Desde o ano passado, a relação entre Moro e Bolsonaro tem acumulado atritos, e eles chegaram a divergir sobre a crise do coronavírus.
Contexto: o movimento de Bolsonaro acontece no mesmo momento em que ele se aproxima de políticos do centrão, grupo que reúne algumas legendas envolvidas em investigações contra corrupção.
Além da crise no Ministério da Justiça, o primeiro escalão do governo convive com outro foco de tensão: a disputa entre a equipe econômica e a ala política pela agenda da retomada econômica . O anúncio do programa Pró-Brasil, sem a presença do ministro Paulo Guedes (Economia), deixou evidente o desconforto, que já teve consequências concretas. O recuo na antecipação de parcela do auxílio emergencial ocorreu devido à resistência de Guedes.
O que está acontecendo: o pano de fundo do embate é preocupação do governo de ganhar musculatura política depois da crise, com vistas às eleições de 2022. A área política quer impulso rápido para a economia. A equipe de Guedes defende disciplina fiscal para evitar alta de inflação e de juros e prefere orientar ações para que a iniciativa privada realize os investimentos necessários. Os sinais emitidos pelo presidente Jair Bolsonaro na crise têm sido interpretados como dúbios.
Consequências: o bate-cabeça interno levou à adoção de tom moderado ontem. O ministro Walter Braga Netto (Casa Civil) disse que o plano é embrionário, e o secretário do Tesouro Nacional, Mansueto Almeida, afirmou ter havido “ruído de comunicação” sobre a ausência da equipe econômica na apresentação do Pró-Brasil.
Em foco:a Economia deve liberar mais R$ 25,7 bilhões para o pagamento do auxílio emergencial de R$ 600. O Ministério da Cidadania calcula que o valor disponível até agora é insuficiente para pagar todos os benefícios. O governo confirmou, ontem, que vai seguir o cronograma de repasses em três meses , até junho. Hoje, a Caixa Econômica Federal vai pagar mais R$ 1,2 bilhão da primeira parcela.